33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 161
- Início
- 33: Depois de Salvarem um Mundo
- Capítulo 161 - Trigésima Segunda Página do Diário – parte 1
Trigésima Segunda Página do Diário – parte 1
— Aonde pensa que vai? — Miraa perguntou.
Eu também queria saber onde estava indo. Tudo que sabia era que queria salvar Zita de seja lá o que fosse que estava a machucando. Mas não conseguiria colocar em palavras.
Não tinha como fazer Miraa entender o que eu estava sentindo.
— Eu… eu… — Nem sei porque ainda tentei falar algo.
— Está preocupado com a garota, né? — Ela disse em um tom mais acolhedor — Eu entendo bem como é.
Ele entendia?
— Eu tenho um amigo em outro reino que já me deu dores de cabeça antes. — Miraa sorriu e olhou para o horizonte, onde o sol começava a despontar — Tivemos o mesmo mestre, mas ele era muito cabeça dura. Talvez tenho o conhecido na festa dos heróis, quando roubou a semente, Long-Hua é o seu nome…
Ela falava dele como se fosse alguém muito especial.
— Queria que você ficasse mais uns dias e descansasse, mas se a pessoa com quem se preocupa está em perigo, tudo que posso fazer é apoiá-lo. — Miraa afagou meus cabelos — Eu queria poder ir com você e salvá-la, mas não é assim que as coisas devem acontecer…
— Então… eu posso… — Tentei formular uma frase.
Estar na presença dela era tão reconfortante que eu nem conseguia pensar direito. O Deco que era um monstro em batalha, não passava de uma criança assustada quando estava na frente de Miraa.
— Sim. Você pode ir. — Ela disse, com aquele sorriso gentil de sempre — Mas tem uma condição…
É claro que tinha.
— Você não vai sozinho. — Miraa continuou — Leve duas ou três pessoas com você. Pode escolher entre os seus novos recrutas ou algum dos seus irmãos que estão aqui em Parva.
Além de Miraa, também tinham vindo Surii, Shiduu, Tibee e Yobaa. Não era sensato escolher Shiduu, ela estava chateada pelo meu desaparecimento repentino na última missão, e com razão.
Escolhi Surii.
Também escolhi Brogo e Jairo, eles foram grandes amigos que fiz nos últimos dias e estiveram ao meu lado em todo o caminho durante a minha jornada suicida resgatando escravos. Eu confiava a minha vida aos dois de olhos fechados.
O que mais me surpreendeu foi que Miraa parecia ter previsto que eu escolheria essas três pessoas. Eles já estavam prontos para a missão, inclusive. Me perguntei o que aconteceria se eu tivesse feito uma escolha diferente.
Ou será que eu nunca tive outra opção?
De uma forma ou de outra, pensar não me levaria a lugar algum. O que levaria era a carroça puxada por dois cavalos que Miraa havia preparado para nós. Ela tinha pensado em tudo, o que me deixava ainda mais assustado.
Partimos com muita pressa, pela informação que tinha conseguido não havia muito tempo restando, pessoas estavam correndo perigo, e não apenas Zita. Tá bom, a informação não dizia isso, mas era assim que eu entendia.
Se por um acaso o poder dela saísse do controle, pessoas poderiam se ferir. Alguns poderiam dizer que ela estava cercada por heróis, e eles saberiam o que fazer, mas eu sabia que não. Aqueles idiotas não tinham nada dentro de suas cabeças.
Quanto mais os cavalos corriam, mais o meu peito doía e algo gritava dentro de mim, dizendo que Zita precisava que eu chegasse logo. Enquanto a viagem rendia e a minha ansiedade só aumentava, resolvi traçar um plano com os meus parceiros.
Originalmente eu não tinha nenhum plano.
Ou melhor, o plano era ir lá e improvisar, mas agra que haviam outras pessoas envolvidas, tinha que pensar melhor ou acabaria colocando eles em perigo. Me lançar de cabeça em uma batalha era uma coisa, apostar a vida dos meus amigos era uma história diferente.
Eu podia ser burro, mas não era estúpido.
Em um resumo, eu seria o responsável pela investida. Jairo e Brogo cuidariam da minha retaguarda, e Surii seria a nossa piloto de fuga. Levei em consideração que o fato de Surii ser uma ladra fazia dela uma especialista em fuga, e ao mesmo tempo, Brogo e Jairo eram meus melhores seguidores em termos de combate.
Talvez se eu também tivesse levado Nilo, nosso grupo teria poder de ataque à distância. Realmente uma pena não ter pensado nisso, mas teria que dar certo com apenas nós quatro.
Tivemos pouco tempo para nos preparar, meu tornozelo ainda estava mal, meu corpo ainda tinha muitos ferimentos e hematomas, e os outros não estavam muito melhores, mas tinha que funcionar.
— Se por um acaso acontecer algo comigo, quero que vocês fujam e me deixem. — Eu disse a eles.
— Está louco? — Surii reclamou — Estamos aqui para te proteger!
— Vamos ficar com você até o fim. — Jairo bateu em meu ombro.
— Vamos cair de porrada em cima daqueles idiotas, resgatamos a sua namorada, chutamos os traseiros de cada um dos heróis e voltamos antes do sol se pôr. — Não sei dizer se Brogo estava sendo otimista ou deixando sua sede de sangue falar mais alto.
Acho que eles não estavam entendendo o meu ponto de vista. Pensei que precisava encontrar uma forma de enrolar eles ou inventar uma mentira boa o suficiente para fazer eles me deixarem para trás caso eu fosse capturado.
Havia uma opção válida.
— Na verdade eu quero me infiltrar no Reino de Prata… — Parecia que meu nariz ia crescer de tão mentirosa que era a frase — Preciso fazer parecer que fui capturado, entendem?
— Mas por que você precisa se infiltrar lá? — Surii me encarou.
Ah sim. Eu não tinha pensado nessa parte. É claro que o meu plano não era ser capturado. Inclusive, eu acreditava muito que ser capturado era encontrar a morte, já que aqueles caras estavam me perseguindo fervorosamente nos últimos tempos.
Tinha que conciliar as desculpas.
Por sorte, improvisar sempre foi a minha maior habilidade. Não que eu me orgulhasse de tantos planos que deram errado, mas as minhas ações desesperadas tinham uma chance maior de dar certo. E eu estava desesperado para dar uma resposta satisfatória.
— Na verdade eu não tenho certeza se vou me infiltrar ainda. — Comecei bem, agora faltava a continuação — Preciso primeiro avaliar a condição que os heróis estão…
Confesso que não sabia o que queria dizer nesse final.
— Condição dos heróis? — Brogo me encarou com aquela máscara inexpressiva.
— Digo, se eles me querem vivo ou morto… — Ok. Isso foi melhor — Se eles me quiserem vivo, posso deixar que me capturem…
— Oh! Isso faz sentido! — Surii bateu as mãos — Claramente, se eles quiserem você morto, não adianta se entregar.
— E para isso que eu preciso de vocês. — Continuei a contragosto — vocês vão me dar a oportunidade de me aproximar de Zita, depois que soubermos se ela está bem e se não me quiserem morto, eu me entrego. Caso eu sinta que querem me matar, nós caímos fora.
É claro que era o pior plano que eu já fiz. As chances de dar certos eram próximas de zero negativamente. Nem sei se isso é possível, mas era o que eu sentia sobre aquela merda de plano improvisado.
Mas eu precisava passar confiança a eles. Não dava para chegara dizer que eu não tinha nenhuma estratégia traçada, e que só chegaria e meteria a porrada enquanto torcia para dar certo. Esse e o tipo de coisa que faz as pessoas olharem torto para você.
Os outros três concordaram com o plano, mas insistiram que era importante que tivéssemos um sinal combinado para o caso de eu precisar de ajuda. Realmente, isso poderia ser muito eficaz.
Surii era muito inteligente e sabia bastante de planos, diferente de mim que só sabia fazer merda. Era bom ter alguém esperta ao meu lado. Ela sugeriu que eu levantasse o punho esquerdo fechado caso precisasse de ajuda.
Um gesto simples e silencioso, mas que seria facilmente notado por meus parceiros. Confesso que senti uma pontada de inveja da capacidade dela de conseguir pensar em algo tão rápido.
Após todos os pontos serem cordados, nos preparamos para a investida inicial. O acampamento dos heróis já era visível no horizonte e uma movimentação de soldados começava a se formar entre nós e as tendas espalhadas pela planície.
É claro que a nossa aproximação seria notada facilmente. Não tínhamos a intenção de esconder a nossa presença ou tentar um ataque furtivo, pelo contrário, partimos para o absurdo e chegamos de frente e gritando.
Percebi que até mesmo dois heróis estavam na linha de frente para nos interceptar. Por algum motivo aquilo não me deu medo, pelo contrário, me encheu de energia. Eram Wagner e Kawã, eu já tinha lutado contra Wagner uma vez, mas Kawã era uma novidade.
E fomos recepcionados pelo cara musculoso, de cabelos longos, pele queimada e sem camisa. Só porque ele tinha um peitoral definido era preciso ficar sem camisa debaixo daquele sol escaldante? Talvez fosse. Admito que faria o mesmo se tivesse um peitoral daqueles.
Não, espera. Mantenha o foco no objetivo.
— Aí, chefe! — Brogo chamou — Eu pego o musculoso ali.
— Pega? — Levantei uma sobrancelha.
— No sentido de segurar ele enquanto vocês passam. — Ela explicou — Mas, se ele quiser outra coisa, eu topo.
Brogo sempre usava a máscara para esconder seu rosto infantil, mesmo assim eu tive a impressão de que ela estava babando.